A caneta balançava por entre os dedos e sobre a mesa à minha frente, tenho uma folha em branco. Eu não sei bem por onde começar, então, começo a revirar alguns papéis como se procurasse por palavras escondidas. Palavras que querem fugir, palavras que não querem ser escritas, que não querem deixar marcas ou vestígios. Eu não as encontrei, elas não estão na minha gaveta, nem nos livros que li ou nas cartas que já escrevi. Elas não tem traço e nem formato, tradução ou significado.
E foi então que percebi, que há sentimentos enterrados que meu coração jamais foi capaz de traduzir e depois de muitos anos, escrever para ti já não fazia sentido. As palavras não estavam escondidas, elas apenas já não existiam para nós. Elas se recusavam em nos expor ao constrangimento da despedida. A ausência delas me fez perceber que para nós só restou o silêncio e as lembranças de um tempo em que as palavras dançavam em rimas e versos, brincam em cores e formatos, em que não importava lugar, hora ou espaço, tal como era o sentimento que tínhamos.
E hoje elas são uma folha em branco, e para sempre serão um reflexo de nós. A caneta agora pousa sobre o tinteiro e a folha que agora está na lixeira das lembranças espera que outras tenham mais sorte que ela. E lá no mesmo lugar, no meu coração, deixei a velha mesa e o banquinho que esperam por meu retorno. Vir correndo escrever, pra não perder fio da miada, daquilo que só meu coração sabe dizer.
Enquanto isso, voltei a caminhar e sem perceber, começo a procurar as palavras que esperam por ser em lidas e traduzidas em algum rosto que, ainda não conheço ou não o reconheço. Um rosto que irá ser parte da minha história e não apenas um borrão na memória.

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