Ela e suas amigas caminhavam, realmente, felizes, enquanto iam para casa, depois de uma festa cheia de histórias para contar. Distraídas elas se assustaram quando um carro passou muito próximo a calçada em que elas estavam, em alta velocidade. Mas ela não deixou de reparar, ela conhecia aquele carro de algum lugar, quando ele então, parou e deu ré até o ponto em que elas estavam. Claro, era ele, por sorte uma noite mesmo que iluminada pela lua, era capaz de esconder o rubor do seu rosto, por vê-lo novamente, mas talvez não fosse suficiente para ofuscar o brilho dos seus olhos e do seu sorriso, ao menos, foi exatamente isso que ele pensou ao vê-la.
Durante a noite, eles trocaram algumas provocações, alguns olhares, e foram a pauta das conversas, cada um em seu grupo de amigos, mas nunca passava disso. Talvez naquela noite, sob aquela lua, as coisas poderiam ser diferentes. Ele começou acompanhá-las com o carro, mantendo a velocidade reduzida ao máximo, era inevitável, eles soltavam faíscas, entre uma provocação e outra, sempre havia um sorriso malicioso, um falso ar desdém, um brincadeira, uma provocação, era quase que impossível se controlar, as palavras saíam sem pensar e o corpo correspondia na mesma proporção. Para ele parecia um jogo, já para... Ela ainda não sabia dizer o que era, mas ela adorava estar naquele jogo, ela adorava sentir seu coração martelando em seu peito, adorava sentia a mudança de expressão do seu próprio rosto quando ele se aproximava, ela amava e percebia que todos os seus sentidos se intensificavam quando ele chegava e como ao mesmo tempo elas os perdia, porque simplesmente, não os dominava.
Ele ofereceu uma carona, e mesmo faltando apenas 3 quadras para chegarem em casa, elas aceitaram. Havia um outro menino no carro, o qual ela tinha reparado antes de entrarem. A conversa entre o grupo foi divertida, até que chegaram no ponto de se despedir. Ele parou o carro em frente a casa de um delas, onde dormiriam naquela noite. Suas amigas queriam entrar, antes que alguém em casa acordasse, ela queria ficar. Naquela noite, estava tudo tão leve, apesar da intensidade entre eles, não havia farpas, apenas sorrisos, as provocações soavam bem e os aproximava, não eram irritantes como em outras vezes, eram diferentes, ela podia sentir isso, ele também estava diferente. Ainda sim, ela resolveu entrar e se despedir do seu "amigo" de escola. Um abraço! Isso nunca aconteceu antes, um contato tão simples e tão íntimo, ainda mais, daquela forma tão amistosa, mas com certo estranhamento e formalidade, apesar dos sorrisos que ambos estampavam. Um beijo! Um momento de indecisão! Ela sabia que se ela permitisse ele a beijaria ou talvez não, que dúvida. Virava o rosto para que ele a beijasse em seu rosto ou não, e permitia que ele se decidisse? Um turbilhão de sensações, em uma breve fração de segundos. Ficou por conta dele então. E tão despreocupadamente, ele selou um momento com um roçar de lábios, uma leve pressão no canto da boca dela que fez seu lábio inferior se mover acompanhando os lábios que o tocavam como se ele desejasse não encerrar aquele momento.
E foi dessa maneira que muito sem jeito, com um sorriso torto, meio de lado, que ela viu ele contornar o carro e ir embora, com aquele sorriso aberto e lindo que só ele sabia dar, deixando ela ali atônita. Sua amigas ficaram doidas, elas diziam "Ei, esse beijo de despedida, não foi no rosto não!" Hahaha... É não foi - ela pensou. Quando entraram em casa, ela sentia todo o seu corpo vibrar como se recebesse pequenos choques elétricos. Deitada em um colchão na sala, ela viu suas amigas pegando rapidamente no sono, mas ela tinha seus olhos bem abertos, vidrados no teto, mas não era para lâmpada apagada ou para as tábuas do forro que ela olhava, ela via mais além. Ela via com o coração, enquanto seus dedos transcorriam a sua boca, contornando os seus lábios e sentido a umidade deles, lembrando que a pouco tempo atrás os lábios dele estiveram ali colados ao seus. Naquela noite foi impossível dormir, e àquela seria uma lembrança tão pura e doce, que ela levaria para sempre consigo, melhor que um primeiro beijo, o primeiro roçar de seus lábios, uma primeira resposta de seu amor.

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