sábado, 26 de abril de 2014

A última vez que te vi partir!

   E novamente eu te vi partir. Nos demos um abraço mais longo do que de costume e também falamos menos. As palavras certas pareciam não existir, mas para quebrar o clima você fez algumas piadas e eu ri por hábito, muito mais do que por vontade. Mas sorrir ao seu lado sempre valia a pena, mesmo que não fosse sincero, simplesmente para poder ver o seu rosto se iluminando ao sorrir em resposta. Seus olhos semicerravam e você até ganhava algumas rugas, mas as linhas finas que se formavam no seu rosto e o formato que sua boca tomava realmente eram cativantes. 
   Foi então, quando você já estava de costas para mim, num impulso eloquente eu decidi ― Eu acho que preciso te falar algo. ― Com os braços cruzados eu estava claramente aflita. 
― Você acha? ― Ele novamente se voltou para mim e pude olhá-lo nos olhos, o que só piorou tudo.
― É eu acho.
― Aconteceu algo?
― Não, mas vai acontecer. ― Ele me olhava buscando entender. Ele estava tão confuso, quanto as minhas palavras. ― Está cada vez mais difícil me despedir de você. 
― Por quê? ― Ele me instigava a falar.
― Não sei.
― Talvez porque nosso relacionamento está criando laços? 
― Talvez, ou melhor não é só por isso, mas é por isso também. ― Comecei atropelar as palavras. ― Eu acredito que tem haver com a compreensão também. Agora eu já sei o que haverá pela frente. Da outra vez eu ainda não sabia e agora eu sei que a única coisa certa é que sentirei sua falta e eu ficarei aqui esperando contando os dias... ― Puxei o ar e apertei ainda mais meus braços contra o corpo como se eles pudessem me segurar e impedir que caminhasse até ele e o impedisse de partir. ― Mas eu não sei quantos os dias e nem a distância que nos separará, eu não saberei por onde e nem com quem você estará, eu não saberei ao menos quando você voltará para mim, se é que você voltará. E ter a consciência disso tudo dói mais do que qualquer dor que já senti antes. ― Por fim confessei, quando percebi que chorava.
   O vento balançava meus cabelos, algumas aves planavam sobre nós, enquanto ele começou a caminhar em minha direção até que fiz sinal para que parasse. ― Acho que o que eu realmente queria dizer é, eu acho que estou realmente gostando de você. Parece loucura, você já esteve muito mais tempo longe do que perto de mim desde que nos conhecemos, mas eu acho que amo você. 
― Você quer que eu fique? ― Seus olhos me revelavam pouco.
― Eu não posso impedir. Isso é você, ― eu olhei o navio que já o esperava ― eu não posso impedir você de ser quem você é, não posso lutar contra isso, porque estaria lutando contra o motivo da minha paixão por você.
― Acho que não entendi.
― Que droga, de quantas maneiras eu preciso dizer para que você entenda que eu o quero aqui comigo é claro, mas eu o roque com tudo que o torna o homem que você é. E se eu pedisse para ficar, para deixar este porto comigo, não seria este homem sonhador e encantador que está aqui na minha frente agora, que estaria indo embora comigo.
― Então não há esperanças? Se eu for, você sofrerá e se eu ficar você teme que eu sofra por estar deixando aquilo que sempre amei e que de certa forma isso mude quem eu sou.
― É isso!
― É um adeus isso?
― Não sei. Você me diz tão pouco! O que você acha?É  um adeus? Tudo isso é loucura da minha cabeça?
― Não é loucura! Eu acho que mudar pode ser bom. Você mudou! Na última vez que passamos por isso você era uma menina com o espirito livre e agora vejo uma mulher, ou melhor a mulher pela qual esperarei todos os dias a notícia de que chegou o momento de voltar para o seus braços. Você tem as suas certezas e suas dúvidas! Eu só tenho apenas uma certeza, que tudo valerá a pena, porque neste mesmo porto encontrarei daqui alguns meses a única mulher que eu verdadeiramente amei e amo.
― Você me ama?
― Porque dúvida? Não duvide, porque deixo meu coração com você, na confiança de que cuidará dele. E comigo levo a lembrança do seu rosto, do seu abraço e do seu doce beijo.
― Vá tranquilo, eu cuidarei dele, porque seu coração é o que tenho de mais precioso agora.
― Que bom, posso ir tranquilo? Nos veremos em breve?
― Em breve e me desculpe. ― Eu estava aliviada em todos os sentidos, por finalmente confessar para ele e para mim mesmo o que sentia e por saber que ele me correspondia. Eu estava feliz, porque mesmo nos amando eu não fui capaz de impedi-lo, afinal, eu não me perdoaria. Ele me deixou pouco, mas o consolo de suas palavras dizendo que me amava serão o suficiente para suportar a distância e o tempo sem ele.
― Nunca mais volte a se desculpar por dizer que "acha" que me ama, isso já é muito mais do que sonhei ter. ― Ele sorriu.― Levo comigo também uma carta, um pedido de dispensa. Afinal eu preciso de mais tempo para que seja digno de tornar a sua dúvida uma certeza como a minha de que um dia neste porto, sentaremos naquela banco e sentiremos o vento em nosso rosto, enquanto as crianças correm atrás das aves, brincando. 
   Eu fiquei tão surpresa por saber que já estava nos seus planos há muito tempo, que essa fosse nossa última despedida, que nem percebi que já não havia distância entre nós, que eu estava em volta de seus braços e que na verdade sua palavras eram sussurros em meus ouvidos.
― Agora vá! Vá cumprir sua missão! Eu estarei a sua espera! ― Eu comecei a me desvencilhar, mas ele me puxou para um último beijo e eu o vi ir embora finalmente pegar sua mochila e partir. Eu estava incrivelmente feliz agora, porque sabia que não estávamos nos separando, mas apenas dando o primeiro passo para ficarmos juntos para sempre. Eu definitivamente o amava e agora a espera seria muito menos dolorosa, mas sim recheada de ansiedade por finalmente dizer sem medo de me arrepender ou não ser correspondida, que eu o amava e também esperava construir uma vida ao lado dele.





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